segunda-feira, 20 de março de 2017

Uma vista sobre o Hip-Hop Português

Sempre estive dividido entre falar ou não sobre este tema.
Vou falar, vai doer e vai ser longo.
Vamos falar de Hip-Hop Português.

Valete, Allen Halloween, Dealema, Da Weasel e outros dentro do mesmo estilo, é o estilo de Hip-Hop que sempre gostei de consumir e é o que ouço à mais de uma década. O que mais me atrai nestes artistas é a capacidade destes passarem para os ouvintes o conhecimento e o ambiente sobre o tema que cantam. Temas que abrangem todo o tipo de diferentes realidades que existem no meio deste nosso Povo Português. Desde o submundo ao típico trabalhador Português.
Ouve-se estes artistas e sente-se mentes que são amplas e flexíveis, com capacidade de olharem para além dos círculos sociais onde se encontram. Simplesmente são mentes que nos passam conhecimento. Subtilmente, e o mais importante, é que também indicam como ultrapassar estes obstáculos e mais, promovem a evolução das pessoas, seja moralmente, ambiciosamente ou como desviar dos maus caminhos que, por muitas vezes, muitas pessoas tendem em cair.

Hoje, o tipo de Hip-Hop que é consumido e que tem mais hits no youtube não encaixa nesta ideologia, é algo que desviou da ideologia principal e caiu em drogas, dinheiro, roubos, chibos, traficantes, confusões, etc... Parece realçar tudo o que de mau surge do submundo Português. É verdade que o Hip-Hop sempre foi um movimento muito ligado e com base neste mundo, mas antes as musicas eram sobre como lutar contra estas dificuldades, hoje em dia parece abraçar-las e pior, idolatrar-las.

Hoje Hip-Hop já não é um movimento, despropositadamente é um ataque à moralidade e civismo da juventude da sociedade Portuguesa. É uma tentativa de elevar o submundo português a um patamar de aceitação pela sociedade em geral. Mas se dá dinheiro quem sou eu para julgar? Capitalismo no seu melhor, todos nós acabamos por virar putas de alguém ou algo, seja de uma maneira ou de outra.

Passando para algo em concreto, um exemplo que, com quase 10 milhões de visualizações no youtube (fenomenal para o nosso país), ilustra o que é esperado actualmente pelos consumidores de Hip-Hop em Portugal. E é exactamente isto, bairros, drogas, álcool e arrogância.
Neste caso a musica é feita por Piruka e Mota Jr e chama-se Ca Bu Fla Ma Nau. Dêem uma vista olhos.


Peço desculpa aos autores e aos envolvidos desta obra pelo meu desgosto na mesma, mas já sabem como se diz, quem chega ao topo vai sempre ter críticos, e sou apenas mais um deles. De facto foi a vossa obra que me fez escrever este post. Não só pela obra em si, mas pelo alto nível visualizações. Dai decidir usar a vossa musica e vídeo como exemplo para ilustrar o que penso. Realço que as seguintes criticas não se aplicam apenas a esta obra, mas sim à maioria do mesmo género publicadas Youtube.

Olho para o video-clip e para a letra, e o que me realça é um nível alto de arrogância, de egocentrismo, criminalidade e contradição.

Está visível na letra quando falam como se não quisessem saber dos outros, não interessa o que os outros pensam. Toda a publicidade é publicidade seja boa ou má, desde que o “Piruka fique no nome do povo”.
Eles “...estão na baixada...”, e, “...não precisas de procurar...”, como quem diz, tens problemas anda ter connosco. Mas cuidado, “...não te dês para parvo porque eu te pego em qualquer altura...”. Esta ideologia e mania do lobo alfa é um dos grandes defeitos do ser humano. Será que deveríamos todos voltar à idade neolítica? Assim este tipo de pensamento de macho alfa, ao menos, pode ser que se adeque à situação, e, em vez de comportamento passivo-agressivo de gangsters para vídeo-clips, seria usado de facto para caçar animais com paus e pedras e claro, proteger as donzelas (que ainda tinham barba).

Outra coisa é a subtilidade com que este tipo de vídeo-clips cria pontos de entrada para que uma vida possa perder o seu rumo. Que influência tem este tipo de conteúdo para adolescente dos 11 aos 18 anos? Imagem que um ou dois amigos viram o vídeo-clip, com indivíduos a fumar uns charros, a beberem uns copos e a mostrar dinheiro, e, chegaram a escola e espalharam o vídeo. Será que estes visualizadores estarão numa situação um bocado tremida e podem, com este tipo de influências tender para o lado errado? O simples facto de fumar uns charros pode estragar o lançamento de uma vida, de uma carreira, dores de cabeças para os pais, enfim, possibilidades infinitas. Portanto, este tipo de conteúdos influência, e sempre influenciará a criminalidade, nem que seja na sua forma mais leve que depois pode evoluir para pior. Estas gerações que hoje vêm e consomem esta ideologia serão, num futuro muito próximo, maridos, tios, professores, gestores deste nosso País, etc...

Contradição também não falta, pode ser uma prova da eficácia que as drogas simplesmente queimam neurónios, eles regeneram mas não ao mesmo ritmo que drogas os destroem. Continuando, “Pus as placas na gaveta e comecei a vender frases...”, bonito?, sim claro, não seguir os maus caminhos é claramente a mensagem desejada e, com toda a certeza, foi das melhores decisões a tomar. Mas ao mesmo tempo mostrar droga, álcool e dinheiro à juventude adolescente, não é um bom caminho. Quem tipicamente fuma uns charros todos os dias, mesmo que não passe disso, entra num estado demasiado semelhante ao limbo, não têm energia nem vontade para evoluir na vida, e o mais provável é que nem pensem nisso, fumam uns charros e de um momento para o outro ganham a capacidade de ficarem as próximas horas com a produtividade reduzida a 0, e pior, não pensam na vida, no seu presente e nos seus futuros. Portanto, é de evitar estas contradições, passar mensagens de não seguir maus caminhos ao mesmo tempo que mostram um, não é lógico.

Na defesa do Piruka, o homem tem de facto boa musica e boas rimas, basta olharem para este, ou outros exemplos no youtube.



Voltando ao tema, a diferença, e o que estou a tentar realçar neste post, é que este vídeo quase chega aos 4 milhões, o primeiro num curto espaço de tempo chegou aos 10 milhões.

Deduzo, portanto, que é com este tipo de ideologia que o povo do Hip-Hop português se identifica, 10 milhões de visualizações é mesmo muita coisa. Claro que destes 10 milhões alguns pensam como eu, basta ler alguns dos comentários no vídeo.

Tendo tudo isto em conta, façam o favor de ver a seguinte paródia e comparar com o primeiro video-clip. Foi publicado à 7-8 anos num canal chamado Cara de Cu, e pareceram adivinhar a evolução do Hip-Hop português. Eis o vídeo e é dos intitulados Urban Gorillas, faixa Sábado à noite.


O única razão pela qual introduzo este vídeo aqui, é porque deve parecer (espero eu) estúpido a qualquer pessoa, sejam qual for a inclinação de Hip-Hop que ouçam. E deixem-me dizer que, quando vejo boas produções de vídeos, com boas batidas, e mesmo com boas rimas, se mantiver a ideologia bairrista, pelo menos para mim, continua a ser paródia. Porque de certo modo, e agora posso eu estar a ser arrogante, visto de fora são iguais.

Para acabar porque isto já vai longo.

Eu não estou a atacar um autor, dois ou três. Eu estou apenas a dar uma opinião critica sobre um estilo de musica que está a ganhar cada vez mais adeptos e que parece estar a ganhar uma vertente duvidosa. Quando assim o é, as pessoas que os representam devem ter cuidado, porque apesar de tudo têm alguma responsabilidade devido à possível influência que podem exercer sobre quem os ouve e segue. Eu não venho criticar só porque não gosto, mas por achar que, removendo a subjectividade do assunto, existem de factos algumas vertentes sociais em que é preciso pensar.

Não seria bom que pais pudessem deixar os filhos ir a concertos de Hip-Hop sem pensar que vão ser roubados ou que irão ficar expostos/consumir droga? Ou se calhar nem voto na matéria têm, e isso diz mais do que tudo o que aqui está escrito.

Provavelmente podem atacar-me por estar fazer algum tipo de estereotipo quanto aos artistas de Hip-Hop. Mas a verdade é que só vai doer a quem encaixar a carapuça. Doer, ou pior, vão sentir orgulho por conseguir passar a massagem que são duros, gangsters, yeaa vivo da rua. Pois, para estes últimos deixem que vos diga (porque não seria idiota que chegue se não o fizesse), continuem porque desemprego à muito, e certamente existem melhores pessoas para estes empregos que vós.

O que considero ser bom Hip-Hop? Outro artista que vale a pena ouvir é claro Dillaz. Deixo apenas mais um vídeo e despeço-me.

Até uma próxima vez.

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